“Eu me sinto campeão mundial, sem dúvida. Representamos o Brasil e ganhamos dos melhores times daquela época. Sem desmerecer o Corinthians e o São Paulo, mas eles disputaram o título deles contra quem?”, disse o goleiro Oberdan Catani, lenda do clube alviverde nas décadas de 40 e 50.
O torneio - A competição foi organizada pela CBD (antiga CBF) um ano depois de o Brasil ter perdido dentro do Maracanã a final da Copa do Mundo de 1950 para o Uruguai, com o objetivo de levantar o moral do brasileiros depois da frustrante derrota em casa. Com a autorização da Fifa e patrocínio da Prefeitura do Rio de Janeiro – por isso o nome de Copa Rio - , o torneio contou com oito equipes campeãs e seus respectivos países: Olympique de Nice ( França), Estrela Vermelha (Iugoslávia), Juventus (Itália), Nacional (Uruguai), Austria Viena (Áustria), Sporting Lisboa (Portugal), Vasco e Palmeiras (Brasil).
Time do Palmeiras de 1951 na final contra a Juventus, no Maracanã Crédito da imagem: Gazeta Press |
“Foi uma maravilha. Nós jogávamos pelo empate no Maracanã, mas estávamos perdendo a partida. Empatamos na última hora contra uma grande equipe do Juventus, muito melhor do que o time de hoje. A torcida no Rio de Janeiro nos apoiou bastante. Foi uma grande festa, uma conquista muito importante”, contou Oberdan.
Pela dimensão da Copa Rio na época, a festa do título foi de fato grande, digna de um Mundial. Os campeões desfilaram em carro aberto no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Memórias de Oberdan – A campanha da conquista palmeirenses não foi feita só de bons momentos. No terceiro e último jogo da primeira fase, o Palmeiras foi goleado pela Juventus, por 4 a 0, dentro do Pacaembu, derrota que custou a posição de titular de Oberdan Catani. Para as semifinais e finais, o goleiro foi substituído pelo reserva Fábio.
“Infelizmente, eu não participei da final. Nosso time foi muito mal naquela derrota para a Juventus no Pacaembu. Foi um vexame, uma vergonha. Me criticaram bastante, mas todo o time jogou mal e sobrou para mim. O Juvenal (zagueiro) foi uma calamidade, pelo amor de Deus, ele jogou muito mal. Depois, o treinador me tirou do time, e o Fábio foi muito bem. Ainda bem que nosso time conseguiu se recuperar e vencer a Juventus na final”, lembrou Oberdan, garantindo que, apesar da saída da equipe, o grupo era uma “família”.
O palmeirense Canhotinho com a taça de campeão Crédito da imagem: Gazeta Press |
“Fizemos um trabalho no formato de um mestrado, com toda a documentação para mostrar à Fifa que o Mundial de 1951 foi legítimo. O torneio tinha todas as características de um Mundial de Clubes, bola da Fifa, arbitragem organização. Fizemos uma pasta com artigos de jornais, depoimentos de atletas ennvolvidos na época, não só nosso jogadores, mas de outros clubes também. Enviamos esse trabalho para os membros do comitê executivo da Fifa”, contou Roberto Frizzo, atual vice-presidente do Palmeiras, e um dos responsáveis pela elaboração do pedido à Fifa.
O jornal 'Gazeta Esportiva' estampou 'Palmeiras campeão do mundo' na época Crédito da imagem: Reprodução |
O Palmeiras cita diversos fatos para mostrar a importância da Copa Rio: a imprensa nacional e internacional deu ampla cobertura à competição, o Campeonato Uruguaio de 1951 foi suspenso surante o mês de julho para que o Nacional pudesse disputar o torneio; o vice-presidente da Fifa, Ottorino Barrasi, fez parte da organização e entregou o troféu ao campeão, entre outros.
Em março de 2007, o Palmeiras recebeu um fax da Fifa, assinado pelo então secretário-geral Urs Linsi, enfim reconhecendo o clube como campeão do mundo de 1951. O fato foi bastante celebrado pelo time alviverde e divulgado pelos jornais. No entanto, a entidade recuou da decisão e em dezembro do mesmo ano confirmou o Corinthians como o primeiro campeão mundial interclubes, em 2000. O pedido do Palmeiras levou outros clubes a exigirem o mesmo direito – o Fluminense, pela Copa Rio de 1952, e o Santos, pela Recopa Internacional de 1968.
Projeto de oficialização segue vivo - Apesar da mudança de posição da Fifa, Roberto Frizzo garante que o Palmeiras ainda não desistiu de tentar a oficialização do título. O dirigente ainda diz que o clube nunca foi comunicado pela entidade de uma nova decisão quanto ao assunto.
“A Fifa reconheceu o título e na sequência não se falou mais disso. No site na internet, eles colocaram depois só os times que conquistaram títulos mundiais nessa fase contemporânea, mas nunca falaram mais nada par a gente. Nunca mandaram nada falando que voltaram atrás na decisão. Mas esse é um assunto que eu tenho vontade de retomar, estou esperando o momento estratégico para reconduzir isso da melhor maneira. De qualquer forma, para mim o Palmeiras é o primeiro campeão mundial da história”, disse Frizzo.
por Tiago Leme, para o ESPN.com.br
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